3 de abril de 2011

Luís de Camões: mito e realidade

As informações sobre a sua biografia são relativamente escassas e pouco seguras, quer pela distância temporal, quer pela falta de dados confiáveis, sendo por isso difícil distinguir aquilo que é mito daquilo que é realidade. A própria data do seu nascimento, assim como o local, é incerta, tendo sido deduzida a partir de uma Carta de Perdão real de 1553.
Luís Vaz de Camões, filho de Simão Vaz de Camões e de Ana de Sá e Macedo, nasceu, provavelmente em Lisboa, por volta de 1525. De um modo geral, pouco se sabe dobre a sua família. Tudo parece indicar que pertencia à pequena nobreza e pensa-se que teria ascendência galega, embora se tenha fixado em Portugal séculos antes.
Não há qualquer prova de que Luís Vaz tenha estudado na Universidade de Coimbra, ou sequer que tenha seguido quaisquer estudos regulares, contudo, não muitos poetas europeus do seu tempo atingiram um vasto conhecimento de cultura clássica e moderna, assim como de filosofia.
Apesar de não haver registos, pensa-se que terá estudado na Universidade de Coimbra, tendo como protector o seu tio paterno, D. Bento de Camões, frade de Santa Cruz e prior da Universidade. N’ Os Lusíadas, Camões canta as “doces e claras águas do Mondego” e a “florida terra” das margens em várias redondilhas, fazendo-nos assim acreditar que realmente estudou na Universidade de Coimbra.
De Coimbra, teria vindo para a corte, em Lisboa, rico de humanidades e com alguma experiência amorosa, versejou e cativou muitos corações com os seus dotes literários, revelando, assim, o seu lado romântico. Era um amoroso por excelência e foi o amor que simultaneamente o fez grande e lhe despedaçou a vida.
Assistiu a saraus literários, dominados pela Infanta D. Maria, por quem pretensamente se deixou tocar pela paixão, facto que o obrigou a retirar-se para o Ribatejo. Também D. Catarina de Ataíde, dama do Paço, por ele imortalizada sob nome de Natércia, conheceria a impetuosidade do amor do poeta.
Criou ódios implacáveis por parte daqueles que viam nele um génio e que sobre ele teciam intrigas.
Camões, através da escrita sarcástica e da utilização do calão, demonstrou ser um homem vivendo do destino, boémio e desregrado. Durante a sua estadia em Lisboa, Camões levou uma vida boémia, frequentando lugares de fama duvidosa, como o Mal-Cozinhado, e vivendo de favores e de tenças.
Teve várias amantes e participou em diversas rixas. Serviu como soldado em Ceuta, por volta de 1549-1551, aí perdendo um olho. Em 1552, de regresso a Lisboa, esteve preso durante oito meses por ter ferido, numa rixa, Gonçalo Borges, um funcionário da corte. Data do ano seguinte a referida Carta de Perdão, ligada a essa ocorrência.
Perdoado pelo rei, acabou por partir para o Oriente e para um longo exílio (1553-1568), para defender o país, onde permaneceu por muitos anos. Na Índia não foi feliz. Goa decepcionou-o, como se pode ler no soneto Cá nesta Babilónia donde mana.
Vai depois para Macau. Pensa-se que terá sido em Macau, numa gruta – covil de piratas - que escreveu Os Lusíadas (mito). É curioso salientar que um homem que viajou tanto no Oriente (como soldado raso e não como um oficial de patente elevada) onde viveu por quase vinte anos e que por certo não podia levar com ele uma biblioteca humanista, escreveu tanto, e quase sempre a tal nível de refinamento cultural. Durante 30 anos de sua vida escreveu em média 800 versos por ano, sob mais adversas condições.
Volta a Goa, naufraga na viagem na foz do Rio Mecom, mas salva-se, nadando com um braço e erguendo com o outro a epopeia, em detrimento da sua amada, Dinamene, uma rapariga chinesa, escrava que acabou por morrer. Este facto está documentado no Canto X, 128. Este mito é considerado realidade por alguns autores, apesar de muitos consideram que não passa duma invenção, contudo é um facto que Camões realmente salvou o livro a nado.
Em Goa sofre caluniosas acusações, dolorosas perseguições e duros trabalhos, vindo Diogo do Couto a encontrá-lo em Moçambique, em 1568, "tão pobre que comia de amigos", trabalhando n'Os Lusíadas.
Em 1569, após 16 anos de desterro, regressa a Lisboa, tendo os seus amigos pago as dívidas e comprado o passaporte. Só três anos mais tarde consegue obter a publicação da primeira edição de Os Lusíadas, recebendo um pagamento anual de 15 mil libras.
Os últimos anos de Camões foram amargurados pela doença e pela miséria. Reza a tradição que se não morreu de fome foi devido à solicitude de um escravo Jau, trazido da Índia, que ia de noite, sem o poeta saber, mendigar de porta em porta o pão do dia seguinte.
O certo é que morreu pobremente e foi enterrado numa vala comum, a 10 de Junho de 1580, tendo D. Gonçalo Coutinho mandado gravar uma lápide para a campa que dizia “Aqui jaz Luís de Camões, Príncipe dos Poetas do seu tempo. Viveu pobre e miseravelmente e assim morreu”.

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