4 de abril de 2011

Análise da Proposição

Podemos dividir a proposição em duas partes. A primeira é constituída pelas duas primeiras estrofes, em que o poeta enuncia os heróis que vai cantar, e a segunda parte é constituída pela terceira e última estrofe da Proposição, em que se estabelece a superioridade dos portugueses em relação aos heróis da Antiguidade.
Na primeira parte, se “o engenho e a arte.” o ajudarem, Camões propõe-se a cantar “o peito ilustre lusitano”, os homens ilustres que se distinguiram pelos seus feitos militares (“ As armas e os barões assinalados”), os “Reis que foram dilatando / A Fé, o Império, e as terras viciosas” (os reis que expandiram o Império e a fé cristã) e todos aqueles que se distinguiram pelas suas acções, libertando-se da “lei da Morte”, não caindo no esquecimento. É de realçar que a enumeração dos feitos que o poeta vai cantar é feita numa gradação decrescente. Primeiro há a exaltação da criação do império português na Ásia e das conquistas marítimas dos “barões assinalados” (“Por mares nunca dantes navegados, / Passaram ainda além da Taprobana”); depois a exaltação dos feitos militares, da expansão do cristianismo e do império português, para a qual foi fundamental o contributo dos reis; finalmente, há a referência aos feitos de todos os outros portugueses que se distinguiram em diversas áreas, no passado, ou que se distinguirão no futuro. A importância que o poeta dá a cada um destes feitos é reflectida na quantidade de versos dedicados a cada um: oito versos para os feitos marítimos, quatro para os feitos militares e apenas dois para os restantes. Nesta primeira parte, ao contrário das epopeias clássicas que cantavam um herói singular, há a evidência de um herói colectivo, uma vez que o poeta não canta os feitos de um herói, mas sim os feitos de todo um povo. Mesmo quando o poeta se refere aos “reis”, aos “barões”, etc., usa sempre o plural, o que confirma o carácter colectivo do herói.
Na segunda parte há um confronto entre os portugueses e marinheiros reconhecidos pelos seus feitos (como Ulisses e Eneias, heróis das epopeias clássicas) e ilustres conquistadores (Alexandre Magno e Trajano). A escolha de navegadores e conquistadores não foi inocente, uma vez que é precisamente nestas áreas que os portugueses se destacam, conseguindo até superar estes heróis. É também nesta parte que o poeta sugere a superioridade dos portugueses em relação a Neptuno e Marte, uma vez que tanto o deus do mar como o deus da guerra foram submissos dos portugueses.
Assim, a proposição, mais do que a introdução da obra e indicação do herói colectivo, é o engrandecimento dos portugueses, é uma referência ao esforço e empenho que os levaram a conquistar “Mais do que prometia a força humana,”.

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